segunda-feira, 30 de abril de 2012




O PRESIDENTE ALEXANDRE KALIL E SUA (MUITO) INTERESSANTE ENTREVISTA


No último sábado assisti a uma interessante (e engraçada) entrevista do presidente do Clube Atlético Mineiro, dada no programa BASTIDORES, do Premier FC. Tratava-se de uma reapresentação (não fiquei sabendo da data da transmissão original) e, logo de início, chamou-me a atenção uma grande falha na programação da emissora: a reapresentação (salvo engano no canal 123) ocorreu justamente durante o primeiro tempo do jogo do Galo pelas semifinais do campeonato mineiro, que era transmitido ao vivo em Pay Per view no canal 127. Parece que os caras não queriam que a torcida do Atlético assistisse à entrevista... Bem, de qualquer forma, em face dos recursos tecnológicos disponíveis pude ver ambos: o jogo, sem áudio, e a entrevista, com áudio, no canto da tela.

Kalil, com sua paixão exacerbada pelo clube que dirige e, por isso mesmo, apresentando alguns dados equivocados (se de propósito ou por falha de memória jamais saberemos) demonstrou grande conhecimento a respeito dos bastidores que envolvem o esporte mais popular do Brasil. É realmente uma figura hilária (no bom sentido), o que cativa a simpatia (desconfiada) até mesmo dos torcedores do maior adversário do alvinegro.

Entre algumas “bobagens”, falou que a até 15 anos atrás, o Galo não possuía adversário em Minas e que só tinha como adversário no Brasil o Flamengo. Concordo que isto ocorreu durante toda a década de 80, mas de lá prá cá o Atlético perdeu completamente sua hegemonia no Estado de Minas Gerais. Desde 1990, ou seja, há 22 anos, quem praticamente não tem adversário dentro do próprio Estado é o Cruzeiro...

Ele disse também, talvez com razão, que o atleticano não torce por títulos, mas pelo Atlético. Certo, mas quem torce para um clube perder? Todos que torcem para seus clubes, com certeza, torcem para que CONQUISTEM TÍTULOS. Não há razão em simplesmente torcer por torcer. Torce-se para que se ganhe alguma coisa. Se é verdade a assertiva do Presidente, talvez isso explique o total descomprometimento de alguns atletas que passaram pelo clube ao longo destes anos tenebrosos, quando praticamente nada foi conquistado pela equipe, ao ponto de, ao que alguém comentou comigo, em uma mesa de bar jogadores alvinegros teriam dito que o que menos importa quando se joga no Galo é vencer. E que quando a situação está ruim, bastaria ganhar um clássico que tudo voltaria a ficar bem...

Estranhamente, em outra parte da entrevista Kalil disse que o torcedor atleticano é muito exigente (aparentemente contradizendo o que falara antes, ao afirmar que o atleticano não torce por títulos mas simplesmente pelo clube). Assim sendo, quando ele teria dito a verdade? Ao que parece, a presença de público nos jogos do Galo responde a questão: estando a equipe bem ou mal a presença de público é sempre grande. Ora, torcida exigente não comparece ao estádio quando as coisas estão ruins.

Mas, justamente este comportamento apaixonado, que o leva a até mesmo se contradizer para defender seu clube e sua torcida, é que faz do Presidente Alexandre Kalil uma figura interessante, engraçada, às vezes soberba, às vezes simpática, mas, sem dúvidas, agradável de se ouvir.

No programa ele abordou diversas questões interessantes do mundo do futebol. Foi corajoso ao mencionar que para que o futebol brasileiro possa evoluir, terá que adotar a política usual na Europa: transformar o público dos estádios. Segundo ele, doravante os simples torcedores deverão ficar em casa, assistindo aos jogos pela TV. Aos estádios deverão comparecer os consumidores. São estes que manterão os clubes, adquirindo, no calor da emoção das partidas, os produtos dos clubes à venda nos estádios. Em suma, os pobres, que não podem pagar preços maiores pelos ingressos e nem consumir, devem ficar em casa. O público dos estádios deverá ter poder aquisitivo para pagar preços justos, em valores similares aos dos espetáculos de teatro ou shows, e poder adquirir produtos licenciados que estarão disponíveis ao consumo. Esta elitização do público futebolístico aumentaria a arrecadação das agremiações e reduziria a violência nos estádios e em seus entornos. Tem toda razão o presidente e temos que reconhecer que ele foi demasiadamente corajoso (macho mesmo!) para o dizer publicamente. Mas é assim que ocorre na Europa, o que permite aos seus clubes importarem nossos melhores atletas.

Kalil também criticou com veemência a CBF, que empurra goela abaixo dos clubes as tabelas e regulamentos das competições oficiais. As agremiações, que efetivamente fazem o espetáculo, sequer são consultadas a respeito. Não possuem uma cadeira dentro da entidade maior do nosso futebol. Mais uma vez, não merece nenhum reparo a fala do Presidente. Simplesmente perfeito!

Teceu ele, também, sérias críticas à forma como se está investindo na realização da Copa do mundo. Mencionou especificamente os absurdos das construções de grandes estádios em Cuiabá e Manaus, bem como a reforma gigantesca que está sendo realizada no Mané Garrincha (em Brasília). São estádios que ficarão completamente ociosos após a Copa. Criticou também o altíssimo investimento na construção do Itaquerão, quando se poderia muito bem simplesmente reformar o Morumbi. Afirmou nada ter contra o Corinthians, tampouco quanto à sua intenção de ter seu próprio estádio, mas contra o enorme investimento que está sendo realizado nesta empreitada, simplesmente para que a cidade de São Paulo possa abrir a Copa (evento que dura apenas um mês). Concluiu que toda essa dinheirama poderia estar sendo revertida para construção de hospitais, escolas, redes de saneamento básico, segurança, etc.

Mencionou o absurdo das exigências da FIFA quanto à rede hoteleira e à mobilidade urbana. Ora, por quê tamanha exigência se as cidades sede receberão poucas partidas e durante pouco tempo? Se fosse uma Olimpíada, que se concentra em apenas uma cidade, aumentando enormemente o fluxo de turistas, atletas, imprensa, segurança, etc., seriam razoáveis tais exigências, mas a Copa do Mundo não trará tamanho aumento de público às cidades sede para justificar tanta exigência. Citou ainda como exemplo o Mineirão: inicialmente mencionou que o Mineirão é a única estrutura de concreto que encolhe. Antigamente, cabiam nele 140.000 pessoas e agora só caberão 65.000. Acrescentou que durante os 40 anos em que no Mineirão cabiam 140.000 pessoas, as vias de acesso sempre comportaram tal movimento. Agora, que só cabem 65.000, as avenidas de acesso deverão ser demasiadamente ampliadas, alargadas, modernizadas, etc. Por fim, concluiu que não é contrário à realização das obras de mobilidade urbana, mas à sua imposição como condição para a realização da Copa. Outra vez mais, perfeito o Presidente alvinegro.

Nossos sinceros parabéns por suas sábias palavras Presidente Alexandre Kalil.

 Abração a todos.


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