O PRESIDENTE ALEXANDRE KALIL E SUA (MUITO) INTERESSANTE ENTREVISTA
No último sábado assisti a uma
interessante (e engraçada) entrevista do presidente do Clube Atlético Mineiro,
dada no programa BASTIDORES, do Premier FC. Tratava-se de uma reapresentação
(não fiquei sabendo da data da transmissão original) e, logo de início,
chamou-me a atenção uma grande falha na programação da emissora: a reapresentação
(salvo engano no canal 123) ocorreu justamente durante o primeiro tempo do jogo
do Galo pelas semifinais do campeonato mineiro, que era transmitido ao vivo em
Pay Per view no canal 127. Parece que os caras não queriam que a torcida do
Atlético assistisse à entrevista... Bem, de qualquer forma, em face dos
recursos tecnológicos disponíveis pude ver ambos: o jogo, sem áudio, e a
entrevista, com áudio, no canto da tela.
Kalil, com sua paixão exacerbada
pelo clube que dirige e, por isso mesmo, apresentando alguns dados equivocados
(se de propósito ou por falha de memória jamais saberemos) demonstrou grande
conhecimento a respeito dos bastidores que envolvem o esporte mais popular do
Brasil. É realmente uma figura hilária (no bom sentido), o que cativa a
simpatia (desconfiada) até mesmo dos torcedores do maior adversário do
alvinegro.
Entre algumas “bobagens”, falou
que a até 15 anos atrás, o Galo não possuía adversário em Minas e que só tinha
como adversário no Brasil o Flamengo. Concordo que isto ocorreu durante toda a
década de 80, mas de lá prá cá o Atlético perdeu completamente sua hegemonia no
Estado de Minas Gerais. Desde 1990, ou seja, há 22 anos, quem praticamente não
tem adversário dentro do próprio Estado é o Cruzeiro...
Ele disse também, talvez com
razão, que o atleticano não torce por títulos, mas pelo Atlético. Certo, mas
quem torce para um clube perder? Todos que torcem para seus clubes, com certeza,
torcem para que CONQUISTEM TÍTULOS. Não há razão em simplesmente torcer por
torcer. Torce-se para que se ganhe alguma coisa. Se é verdade a assertiva do
Presidente, talvez isso explique o total descomprometimento de alguns atletas
que passaram pelo clube ao longo destes anos tenebrosos, quando praticamente
nada foi conquistado pela equipe, ao ponto de, ao que alguém comentou comigo,
em uma mesa de bar jogadores alvinegros teriam dito que o que menos importa
quando se joga no Galo é vencer. E que quando a situação está ruim, bastaria
ganhar um clássico que tudo voltaria a ficar bem...
Estranhamente, em outra parte da
entrevista Kalil disse que o torcedor atleticano é muito exigente
(aparentemente contradizendo o que falara antes, ao afirmar que o atleticano
não torce por títulos mas simplesmente pelo clube). Assim sendo, quando ele
teria dito a verdade? Ao que parece, a presença de público nos jogos do Galo
responde a questão: estando a equipe bem ou mal a presença de público é sempre
grande. Ora, torcida exigente não comparece ao estádio quando as coisas estão ruins.
Mas, justamente este
comportamento apaixonado, que o leva a até mesmo se contradizer para defender seu
clube e sua torcida, é que faz do Presidente Alexandre Kalil uma figura
interessante, engraçada, às vezes soberba, às vezes simpática, mas, sem
dúvidas, agradável de se ouvir.
No programa ele abordou diversas
questões interessantes do mundo do futebol. Foi corajoso ao mencionar que para
que o futebol brasileiro possa evoluir, terá que adotar a política usual na
Europa: transformar o público dos estádios. Segundo ele, doravante os simples
torcedores deverão ficar em casa, assistindo aos jogos pela TV. Aos estádios
deverão comparecer os consumidores. São estes que manterão os clubes,
adquirindo, no calor da emoção das partidas, os produtos dos clubes à venda nos
estádios. Em suma, os pobres, que não podem pagar preços maiores pelos
ingressos e nem consumir, devem ficar em casa. O público dos estádios deverá
ter poder aquisitivo para pagar preços justos, em valores similares aos dos
espetáculos de teatro ou shows, e poder adquirir produtos licenciados que
estarão disponíveis ao consumo. Esta elitização do público futebolístico
aumentaria a arrecadação das agremiações e reduziria a violência nos estádios e
em seus entornos. Tem toda razão o presidente e temos que reconhecer que ele
foi demasiadamente corajoso (macho mesmo!) para o dizer publicamente. Mas é
assim que ocorre na Europa, o que permite aos seus clubes importarem nossos
melhores atletas.
Kalil também criticou com
veemência a CBF, que empurra goela abaixo dos clubes as tabelas e regulamentos
das competições oficiais. As agremiações, que efetivamente fazem o espetáculo,
sequer são consultadas a respeito. Não possuem uma cadeira dentro da entidade
maior do nosso futebol. Mais uma vez, não merece nenhum reparo a fala do Presidente.
Simplesmente perfeito!
Teceu ele, também, sérias
críticas à forma como se está investindo na realização da Copa do mundo. Mencionou
especificamente os absurdos das construções de grandes estádios em Cuiabá e
Manaus, bem como a reforma gigantesca que está sendo realizada no Mané
Garrincha (em Brasília). São estádios que ficarão completamente ociosos após a Copa. Criticou também o altíssimo investimento na construção
do Itaquerão, quando se poderia muito bem simplesmente reformar o Morumbi.
Afirmou nada ter contra o Corinthians, tampouco quanto à sua intenção de ter
seu próprio estádio, mas contra o enorme investimento que está sendo realizado
nesta empreitada, simplesmente para que a cidade de São Paulo possa abrir a
Copa (evento que dura apenas um mês). Concluiu que toda essa dinheirama poderia
estar sendo revertida para construção de hospitais, escolas, redes de
saneamento básico, segurança, etc.
Mencionou o absurdo das
exigências da FIFA quanto à rede hoteleira e à mobilidade urbana. Ora, por quê
tamanha exigência se as cidades sede receberão poucas partidas e durante pouco
tempo? Se fosse uma Olimpíada, que se concentra em apenas uma cidade,
aumentando enormemente o fluxo de turistas, atletas, imprensa, segurança, etc.,
seriam razoáveis tais exigências, mas a Copa do Mundo não trará tamanho aumento
de público às cidades sede para justificar tanta exigência. Citou ainda como
exemplo o Mineirão: inicialmente mencionou que o Mineirão é a única estrutura
de concreto que encolhe. Antigamente, cabiam nele 140.000 pessoas e agora só caberão
65.000. Acrescentou que durante os 40 anos em que no Mineirão cabiam 140.000
pessoas, as vias de acesso sempre comportaram tal movimento. Agora, que só cabem
65.000, as avenidas de acesso deverão ser demasiadamente ampliadas, alargadas,
modernizadas, etc. Por fim, concluiu que não é contrário à realização das obras
de mobilidade urbana, mas à sua imposição como condição para a realização da
Copa. Outra vez mais, perfeito o Presidente alvinegro.
Nossos sinceros parabéns por suas
sábias palavras Presidente Alexandre Kalil.